Quando analisamos o fluxo de dólares entre o Brasil e o resto do mundo, o saldo está negativo para o Brasil. Contudo, há algumas frentes na contramão do mercado, que estão conseguindo atrair mais dólares. É o caso dos IPOs (ofertas públicas de ações) e dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil.
Quando olhamos algumas operações de mercado primário, como IPO (oferta pública inicial) e Follow On (ofertas primárias de ações de empresas que já fizeram IPO), o saldo está positivo. Essas operações na B3 atraíram R$ 4,4 bilhões aqui. O que nos leva à percepção de que mesmo com a saída dos estrangeiros da Bolsa no mercado secundário, há entrada de recursos no mercado primário. Este ano, já tivemos dois IPOs (Centauro e Neoenergia), mais 17 follow on, totalizando 19 operações.
Além das negociações na Bolsa, temos outras formas de trazer o fluxo para cá. O investimento estrangeiro direto (IED) é um ótimo parâmetro. Segundo o último relatório da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), divulgado na quarta-feira (14), o IED na América Latina cresceu 13,2% em 2018 em relação ao ano anterior.
O Brasil recebeu 48% do total, US$ 88,3 milhões. De acordo com o relatório, este aumento foi devido ao “reinvestimento de lucros e empréstimos entre empresas”. Ou seja, “não se fundamentou na receita de aportes de capital, que seria a fonte mais representativa do renovado interesse das empresas em se instalar nos países da região”.
Quando olhamos para 2019, o Banco Central que o saldo líquido dos investimentos estrangeiros diretos somaram US$37,3 bilhões no primeiro semestre, 10,4% acima dos US$33,8 bilhões observados no período correspondente de 2018. Ou seja, a tendência de crescimento permanece em 2019.
Este indicador demonstra, inclusive, um contraste com a tendência mundial. Portanto, seguimos confiantes na capacidade do Brasil mostrar o seu valor para o investidor estrangeiro e trazer o fluxo para cá.
Fluxo cambial desafiador
O fluxo cambial é um indicador fundamental para ser monitorado. Ele mostra o fluxo de caixa de origem internacional que foi direcionada ao Brasil em um determinado período. O compilado leva em consideração o consolidado do fluxo financeiro (investimentos em títulos, remessas de lucros e dividendos ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, entre outras operações) e do fluxo comercial (operações de câmbio relacionadas a exportações e importações).
De acordo com a divulgação na quarta-feira (21), o saldo da conta está negativo em US$ 802 milhões em agosto. Ou seja, ainda estamos cambaleando e sofrendo com os dólares que custam a ficar aqui.
Nas últimas semanas, o fator agravador, além da guerra comercial entre EUA e China e desaceleração global, pode ser atribuído à crise na Argentina.
Por sermos um país emergente e vizinhos da Argentina, automaticamente, somos colocados no mesmo pacote de países com risco político e econômico elevado. Com isso, o capital estrangeiro prefere não ocorrer riscos desnecessários (mesmo porque ninguém sabe ao certo o que se passa por aqui) e recorre às nações e ativos mais seguros.
Contudo, como vimos acima, há algumas frentes que estão conseguindo atrair mais dólares de fora. É claro que o cenário externo mais conturbado pode fazer com que o apetite de curto prazo seja perdido, mas ainda assim, as perspectivas não deixam de ser boas.
Um dado importante: quem está fazendo uma operação relacionada a investimento estrangeiro direto precisa fazer o Registro Declaratório Eletrônico (RDE), no módulo IED. Este é o o registro para investimentos em moeda estrangeira feito em empresas brasileiras.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência e planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante e acabou de inaugurar um Instagram sobre finanças pessoais e economia:@glendamaraf.