Real, moeda forte?

Confira a análise de câmbio da semana feita pelo economista André Galhardo referente ao comportamento do Dólar, do Euro e da Libra Esterlina.

Após problemas agudos com o câmbio, movimentos de reversão da tendência de desvalorização da moeda brasileira são vistos com grande euforia. Mas onde isso vai nos levar?

Real volta a patamares mais aceitáveis perante o Dólar

Primeiramente, é importante avaliar com bastante cautela o comportamento do câmbio nos últimos dias.

O movimento de valorização da moeda brasileira em relação ao Dólar americano trata-se de um ajuste feito após intenso processo de desvalorização visto na semana em que o presidente Jair Bolsonaro esteve pela última vez nos Estados Unidos.

Na época, a paralisação de professores e estudantes, a fala de Bolsonaro quando questionado sobre as manifestações e até mesmo a divulgação – feita por Bolsonaro – do texto em que se recomendava vender ativos brasileiros, agiram contra o Real e a cotação ultrapassou com folga os R$ 4,00.

Neste cenário, vemos um processo de valorização da moeda nacional que apenas trouxe o câmbio de volta para o patamar em que se encontrava antes das manifestações, R$ 3,80 ~ R$ 3,90 (de janeiro a maio deste ano a cotação média da moeda nacional está ficou em R$ 3,833).

Até aqui o Real tem “agido bem” diante do vazamento de mensagens trocadas entre os procuradores da República e o então juiz Sérgio Moro. O ponto é: saber quando virá a próxima onda de desvalorização, que pode ser conduzida pela greve geral, marcada para 14/06 ou novas divulgações de mensagens do Ministro Sérgio Moro.

Recuo da produção industrial afeta Euro

Com relação à moeda da Zona do Euro, a movimentação em relação ao Real foi mais branda, tanto na desvalorização vista no mês de maio, quanto no processo de reversão visto a partir deste mês.

Essa intensidade menor se deve a situação da economia europeia, de modo geral.

Após dados econômicos mais satisfatórios no primeiro trimestre do ano, no segundo trimestre os dados apontam para novo recuo da produção industrial.

A deterioração vista a partir dos dados que já foram divulgados estão sendo puxados para baixo pela maior economia do bloco europeu, a Alemanha. Por lá, comparação mensal, só no mês de abril a produção industrial recuou 2,3%. Os dados da Zona do Euro também estão sendo contaminados pelo recuo da produção industrial italiana que já apresentou dois recuos mensais consecutivos.

O movimento de alta do Euro em relação ao Dólar americano visto nos últimos dias já começa a se dissipar. No dia 07/06 o Euro estava cotado a US$ 1,1343, na quinta-feira (13) a cotação já estava em US$ 1,1280, com tendência de baixa.

Esse movimento reforça a tendência de equilíbrio/valorização do Real frente ao Euro nos próximos dias.

Problemas políticos impactam Libra Esterlina

No Reino Unido a situação é um pouco mais complicada que nos seus pares do continente. E esse é um dos motivos pelas quais o Real já se valorizou 1,41% em relação à Libra Esterlina desde o fechamento do mercado no último dia de maio.

Dados mostram que a economia do Reino Unido recuou no mês de abril em relação ao mês imediatamente anterior. Só a produção de automóveis recuou 24% em abril.

O pior dessas leituras é que parte dos dados positivos visto no primeiro trimestre deste ano ocorreram por antecipação de produção e despacho de mercadorias das empresas da ilha com medo de um Brexit sem acordo.

De modo geral, os desdobramento do Brexit, e isso inclui a substituição da primeira ministra britânica, Theresa May, jogará a favor da moeda brasileira no médio é longo prazo.

No encerramento do mês de maio a Libra Esterlina estava cotada a R$ 4,957 e no dia 13 de junho a cotação havia caído para R$ 4,887.

Perspectivas

A greve geral, as mensagens divulgadas pela The Intercept, pelas derrotas do governo no Congresso Nacional e pelo desempenho da economia nacional e mundial conferem ampla volatilidade do câmbio brasileiro.

Na Europa, dados oficiais sobre a produção industrial alemã voltam a decepcionar e nos Estados Unidos, dados ambíguos sobre o mercado de trabalho também colocam pressão sobre o Dólar americano.

Na economia nacional dados oficiais sobre o comércio varejista apontaram queda enquanto que o setor de serviços de modo geral apresentou avanço marginal no mês de abril, incapaz de anular as perdas de fevereiro e março.

Esses números já colocam na ordem do dia a palavra recessão técnica, que é quando um país apresenta resultados negativos do PIB por dois trimestres em sequência, e isso engrossa o problema político e econômico já enfrentado pelo governo.

De modo geral, a despeito da valorização do Real vista nos últimos dias, não há garantia de que este processo permaneça por muito mais tempo, em outras palavras, a tendência de médio e longo prazo é de desvalorização do Real.

Muito importante: Os dados sobre a economia dos Estados Unidos são ambíguos, mas caso se confirme alguma desaceleração mais forte no segundo trimestre, estarão abertas as portas para que o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) faça uma redução na taxa básica de juros.

Esse movimento de baixa deve influenciar sobremaneira as economias periféricas e deve conferir nova onda de valorização do Real.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

André Galhardo

Economista-chefe da Análise Econômica, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, e é autor do livro “O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico.”

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