Chegou a retrospectiva econômica 2022. O ano foi desafiador e marcado por diversos medos, a começar pelo medo da pandemia que veio como herança dos dois anos anteriores. Mas, além disso, 2022 trouxe novos medos, como a possibilidade de uma terceira guerra mundial e as incertezas econômicas que rondam o mundo.
Ainda tivemos eleições no Brasil, aumentos de juros no mundo todo e inflação que os países desenvolvidos achavam que nunca mais veriam.
Quer uma rápida retrospectiva econômica do que rolou de mais importante este ano? Então esse texto é para você. Acompanhe a seguir.
1º trimestre: A “superação” da pandemia e o novo medo de uma terceira guerra mundial
Retrospectiva econômica 2022: Janeiro
O mundo entrou no ano de 2022 com a expectativa de que a pandemia fosse só mais um capítulo na nossa curta história. Mas não foi bem assim. Apesar dos avanços da vacinação, o começo deste ano foi marcado por uma violenta onda de contaminações por Covid-19 nos Estados Unidos e no Brasil.
A grande novidade é que as novas variantes do novo coronavírus, apesar de mais transmissíveis, se mostraram menos agressivas e letais. Os impactos das novas variantes são principalmente sobre as vias aéreas superiores.
Apesar disso, a incompletude dos processos de imunização, visto principalmente nos Estados Unidos, acabaram forçando governos a usar novas medidas de distanciamento social.
Nos Estados Unidos, os impactos da disseminação do vírus sobre o país acabaram produzindo uma forte queda no PIB do primeiro trimestre. Com a menor letalidade das novas ondas de contaminação, a abertura comercial se deu de forma mais rápida, permitindo uma rápida retomada da atividade econômica.
Apesar desta “vitória” contra o vírus, a China experimenta, neste mês de dezembro, a sua maior onda de contaminações desde o começo da pandemia.
Apesar da ausência de números oficiais, alguns meios de comunicação falam em cerca de 20% da população total da China contaminada. E isso só nos primeiros 20 dias de dezembro. Houve relatos de cerca de 37 milhões de contaminados em um único dia de dezembro.
Em movimento político, o Governo Federal discute PEC que congela impostos federais sobre os combustíveis e cria fundo para suavizar altas nos preços da gasolina e do diesel.
Retrospectiva econômica 2022: Fevereiro
Como se não bastassem os problemas trazidos pela pandemia, o mundo passou a flertar de novo com uma possível guerra nuclear. Fevereiro marcou o começo de uma guerra que já custou centenas de milhares de vidas e ajudou a desajustar ainda mais as cadeias produtivas globais.
A Rússia, detentora do maior arsenal nuclear do mundo, decidiu atacar a Ucrânia para reivindicar regiões separatistas que se autodenominam como territórios russos.
O conflito, que começou com a finalidade de anexação das províncias de Luhansk e Donetsk, mostrou contornos geopolíticos mais complexos. Rapidamente, acabou se traduzindo em um ataque geral da Rússia contra a Ucrânia.
Putin alega que a motivação dos ataques é a constante aproximação da influência política e militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobre países do leste da Europa.
A guerra na Ucrânia foi responsável pelo colapso energético da Europa, pela redução do fornecimento de petróleo, gás natural, trigo, aço, fertilizantes etc.
Retrospectiva econômica 2022: Março
Foi em março que o Fed, banco central dos Estados Unidos, decidiu começar o seu ciclo de aperto monetário.
A taxa de juros, antes em 0,25% ao ano, foi sendo levemente ajustada até que o ritmo de aumentos ficou insustentável. A economia americana amargou o nível de inflação mais alto em cerca de 42 anos. A situação ficou ainda mais crítica depois do desarranjo das cadeias de produção de combustíveis.
O Fed tomou coragem e os ajustes de 0,75% por reunião chegaram. Isso não acontecia desde 1994. A mudança de postura do Fed se tornou muito mais hawkish como os participantes do mercado financeiro costumam dizer. Ou seja, o Fed está mais propenso a aumentar os juros.
Somado ao comportamento irremediável da inflação em elevação, a taxa básica de juros alcançou 4,50% ao final de 2022. O Banco Central americano promete subir pelo menos mais 1% no primeiro trimestre do ano que vem.
O aumento de juros foi acompanhado de forma assíncrona pelos bancos centrais da Inglaterra e da Zona do Euro. Ambos permanecem firmes nas suas missões de combater a inflação mais alta em muitas décadas.
Sobre o colapso das cadeias de suprimentos de energia, o processo foi tão grave que obrigou o governo norte-americano a restabelecer diálogos com Nicolás Maduro e Ebrahim Raisi, presidentes da Venezuela e do Irã, respectivamente.
2º trimestre: maior inflação em quase 20 anos, liberação de FGTS e economia em expansão
Retrospectiva econômica 2022: Abril
Foi no mês de abril que a economia brasileira sentiu o maior impacto da inflação acumulada em 12 meses. O indicador oficial de preços do país mostrava uma inflação anualizada em 12,13%, a mais alta desde outubro de 2003.
Isso porque estamos falando do IPCA, o índice de preços oficial do país. Se pararmos para analisar o IGP-M, o maior indexador de contratos do Brasil, a situação era ainda mais crítica.
Em março de 2022, a inflação anual medida pelo IGP-M estava em 14,77%. É um resultado relativamente baixo se considerarmos que em maio de 2021 o percentual acumulado em 12 meses havia superado os 37%.
Os mais desavisados poderiam dizer que a inflação, fenômeno global, é assunto do passado. Que o Banco Central agiu rápido e por isso o Brasil tem hoje uma das menores taxas de inflação do mundo.
É verdade que a inflação brasileira tem cedido nos últimos meses, mas sem dúvida não foi por conta do aumento da Selic que isso aconteceu. O corte de impostos federais e estaduais sobre os combustíveis é a grande explicação para a queda de preços no país.
Além disso, a inflação, hoje bem menor que ontem, ainda está acima da meta e deve encerrar 2023 em patamar ainda muito elevado.
Retrospectiva econômica 2022: Maio
A liberação do saque extraordinário do FGTS começou no dia 20 de abril e prometia liberar cerca de R$30 bilhões na economia brasileira.
Apesar das expectativas, dados de dezembro mostraram que cerca de 13,3 milhões dos 46 milhões de trabalhadores aptos a fazer o saque não o fizeram, o que reduziu o impacto de R$30 bilhões para cerca de R$23,3 bilhões.
Apesar do nome “extraordinário”, ou seja, que não acontece com recorrência, o saque de recursos do FGTS tem sido usado de forma recorrente desde quando a prática começou, em 2017.
O fato é que tanto a liberação dos recursos do FGTS quanto a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas para o primeiro semestre do ano, ajudaram a promover um ritmo mais forte de atividade econômica ao país.
Retrospectiva econômica 2022: Junho
A palavra inflação talvez seja a mais citada nesta retrospectiva, mas não é proposital. O mundo foi assolado pela maior inflação em muitas décadas e isso trouxe mudanças profundas nas vidas das pessoas, empresas e governos, além de tirar de cena o domínio dos juros negativos que marcou anos anteriores.
Diante disso, sem poder esperar pelos efeitos defasados dos juros sobre a inflação, o governo decidiu propor equalizar as alíquotas de ICMS sobre os combustíveis, energia elétrica, serviços de telecomunicações e transporte urbano.
A Lei Complementar nº 194 de 2022 colocou todos os bens e serviços acima no rol de produtos essenciais e estabeleceu um teto para a cobrança de ICMS (17% no caso dos combustíveis). A mudança foi tão profunda que acabou produzindo um movimento de deflação mensal que durou três meses.
3º trimestre: o hat-trick da deflação do IPCA, estado de emergência e juros nas alturas
Retrospectiva econômica 2022: Julho
Com pouco dinheiro em caixa e muitas travas jurídicas, o governo ficou sem muitos instrumentos para enfrentar o aumento da fome e a severa perda do poder aquisitivo do Real diante do aumento da inflação.
A saída, que muitos atribuem à aproximação das eleições, foi decretar Estado de Emergência. Com esse mecanismo o governo pode aumentar o pagamento do Auxílio-Brasil, do chamado Vale-gás, além de conceder cheques mensais de R$1.000 a cada caminhoneiro autônomo devidamente registrado junto à ANTT.
O impacto fiscal deste pacote foi avaliado em cerca de R$42 bilhões e não seria considerado para fins de cumprimento de metas fiscais previstas nas peças orçamentárias da União.
Retrospectiva econômica 2022: Agosto
Na tentativa de conter o avanço da inflação, que alcançou no mês de abril de 2022 o maior patamar registrado pela série histórica desde outubro de 2003, o Banco Central do Brasil, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), decidiu fazer uma política monetária extremamente contracionista.
A decisão de subir os juros com vigor partiu do entendimento de que quanto mais rápido os juros subissem, mais rápido se daria o movimento de desinflação esperado pela nossa autoridade monetária.
O ciclo de aumento de juros de 2% para 13,75% foi o mais longo em toda a história brasileira e representou um grande esforço do Bacen.
A autoridade brasileira só não contava que ao puxar a corda para um lado, encontraria o próprio governo puxando para o outro, num lúdico movimento de cabo de guerra.
Em teoria, qual a finalidade de se aumentar os juros do país? Diminuir o ritmo do consumo e do investimento, certo? Pois bem, à medida que o banco central brasileiro ia promovendo uma senhora política monetária contracionista o governo ia liberando FGTS, parcelas do 13º salário, aumento do auxílio Brasil etc,
Medidas necessárias, é verdade, mas que jogavam contra os esforços do Copom.
Retrospectiva econômica 2022: Setembro
O mês de setembro marcou a terceira deflação mensal consecutiva do indicador oficial de preços do Brasil.
Dados do IBGE mostraram que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou queda de 1,32% nos meses de julho, agosto e setembro, período em que foram registradas três deflações mensais consecutivas.
Apesar da insistência de alguns analistas de que o processo de desinflação no Brasil tenha ocorrido pela forma antecipada de ação do nosso banco central, na verdade, o grande contributo para a queda dos preços no país tem nome e sobrenome, o corte nos impostos sobre combustíveis.
4º trimestre: eleições presidenciais, a volta da inflação e o novo risco da Covid-19 vindo da China
Retrospectiva econômica 2022: Outubro
Como não podia deixar de ser, o fato mais importante de outubro foram as eleições para Senador, Governador, Deputado e Presidente.
Ao contrário do que muitos esperavam, a corrida presidencial trouxe poucos impactos para a economia nacional, diferentemente do que vimos em 2002, por exemplo, mas as coisas foram ficando mais voláteis à medida que chegava o dia de votação do primeiro turno.
Índices acionários e o mercado de câmbio mostraram forte volatilidade no interregno entre o primeiro e segundo turno, mas no fim, mesmo com episódios agudos de valorização e desvalorização da moeda brasileira, o cenário foi bem menos conturbado do que se esperava. Exceção feita aos bloqueios das estradas e manifestações políticas mais acaloradas.
Retrospectiva econômica 2022: Novembro
O mês de novembro teve como marco um importante fenômeno que, na realidade, aconteceu ao longo de 2022: o chamado “inverno cripto”.
Depois de alcançar patamares impensáveis, a cotação dos principais criptoativos passaram a perder valor rapidamente, sobretudo depois que os bancos centrais dos Estados Unidos, Zona do Euro e Reino Unido passaram a ajustar as suas políticas monetárias.
Com a queda expressiva do Bitcoin, que viu seu valor reduzir cerca de 75% até novembro de 2022, e de demais moedas como a Ether, Solana etc, a corrida aos saques foi inevitável, causando a quebra de diversas plataformas que operavam a compra e a venda desses ativos digitais.
Para quem acompanhou o mercado ao longo deste ano sombrio para os apaixonados por criptoativos, 2023 promete não ser muito diferente, afinal de contas, teremos mais aumentos de juros no mundo e uma consequente perda de ritmo da atividade econômica.
Retrospectiva econômica 2022: Dezembro
O mês de dezembro nem acabou ainda e temos muitas coisas para citar, então, vamos por ordem de importância partindo do exterior para a condição doméstica.
Na China, após uma onda de protestos, a maior desde 1989, o governo decidiu flexibilizar a política de Covid zero no país. Isso significa que uma parte importante das exigências para acessar locais públicos e realizar viagens, por exemplo, ou foi suprimida ou muito flexibilizada.
Com isso, a China experimenta a sua maior onda de Covid desde o começo da pandemia, no final de 2019 em território chinês.
Alguns jornais falam em 37 milhões de contaminados em um único dia e outros apontam para a possibilidade de que cerca de 20% da população total da China tenha contraído o vírus só nos primeiros 20 dias de dezembro.
O risco aqui, além da paralisação da economia chinesa, é o surgimento de variantes que escapem das vacinas de última geração e causem ameaças à vida humana e às demais economias globais.
No Brasil, o grande assunto de dezembro foi a chamada PEC da transição. O mercado se mostrou muito volátil diante da possibilidade de aumento dos gastos durante o próximo governo e da supressão do malfadado teto de gastos.
Diante disso, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, promete cortes robustos de gastos e déficit menor já no primeiro ano do novo governo.
Ah, teve a copa do mundo também, mas o final vocês já sabem… rs