O Banco Central do Brasil decidiu, sem surpresa, aumentar a taxa Selic – a taxa básica de juros da economia – em 1,0% na reunião do Copom hoje, dia 04 de maio.
O valor da Taxa Selic até o momento está em 12,75%, o que representa a 21ª maior taxa de juros do mundo e a 3ª mais alta entre as 30 maiores economias do planeta.
O atual ciclo de aumentos teve início na reunião do Copom em março de 2021 e já representa o maior movimento consecutivo de altas da história da nossa taxa de juros.
O Copom começou a aumentar os juros depois que a inflação deu indícios de que passaria a subir rapidamente com a desorganização das cadeias produtivas, com a crise hídrica e com a forte desvalorização do real em relação ao dólar.
Mesmo considerando que os principais componentes desta inflação estão ligados ao aumento dos custos na base da cadeia produtiva, o banco central brasileiro tem promovido um intenso choque de juros, política que normalmente é adotada quando há sinais de superaquecimento da economia.
Segundo o Bacen – o Copom é um órgão do Banco Central – esse aumento de juros tem duas finalidades que são, na verdade, duas faces da mesma moeda: eliminar os componentes de inércia, ou seja, os aumentos de preços por expectativa, quando os agentes passam a reajustar os preços tentando se antecipar ao aumento de custos, e ancorar as expectativas, que nada mais é que emitir um sinal claro ao mercado de que o Copom não será condescendente com um nível de preços mais alto do que prevê o regime de metas.
Reunião do Copom hoje traz impacto na economia dos resultados
Com o aumento da nossa taxa básica de juros, a Selic, na reunião de hoje do Copom, a tendência, que já vem se confirmando ao longo deste ciclo de aperto monetário, é que os juros aos consumidores aumentem ainda mais.
O Brasil é um dos países com maior nível de concentração bancário do mundo. Em um relatório de 2019 da AB Fintechs, o Brasil aparecia como tendo o segundo mercado mais concentrado do mundo, atrás apenas dos Países Baixos.
Essa concentração de mercado, associada a um elevado risco moral por parte dos bancos, ajudam a produzir taxas de juros que são aberrações para o resto do mundo.
Dados do Banco Central mostram que o juro do crédito rotativo do cartão de crédito alcançou 335,2% ao ano em fevereiro de 2022. A taxa de inadimplência neste tipo de modalidade, que é quando o cliente saca recursos por meio do cartão de crédito, está em 35,1%.
Essa elevação esperada nas taxas de juros às pessoas físicas e jurídicas acabam atuando em desfavor da economia nacional. Se o dinheiro está mais caro, empresários adiam investimentos e consumidores também podem optar por comprar bens e serviços financiados em outro momento.
Tudo isso contribui para uma diminuição no ritmo produtivo na economia e pode criar, no limite, um ambiente recessivo.
Qual o impacto no dólar depois da reunião do Copom hoje
Além dos efeitos sobre o nível de atividade econômica, o aumento da nossa taxa de juros também exerce influência sobre nossas contas externas e a cotação do dólar, por exemplo.
Isso acontece porque, quanto mais elevada a Selic estiver, maiores serão os rendimentos dos títulos públicos, o que acaba por atrair capital estrangeiro que está em busca de bons rendimentos. Por isso, o aumento estipulado na reunião de hoje do Copom pode afetar esse setor.
À medida que os dólares chegam ao país em busca desses bons rendimentos, há um movimento de valorização da moeda brasileira, afinal de contas, estamos trabalhando com a hipótese de que o volume de dólares dentro dos bancos comerciais e do Banco Central aumentou.
Quando digo, em teoria, quero chamar a atenção para dois elementos importantes: o primeiro, para que essa mecânica de fluxo de capitais funcione, os demais bancos centrais devem ficar inertes ou subir a taxa de juros de seus países com menor rapidez que o Bacen. O segundo está conectado ao clima de incerteza e isso pode fazer muita diferença na hora de atrair capital.
Apenas a título de comparação, a taxa básica de juros da Argentina encontra-se em 47% ao ano e isso não tem garantido a valorização do Peso em relação à moeda norte-americana. Isso acontece porque a taxa de inflação está muito elevada, acima de 55% e há uma forte instabilidade política.
Portanto, apesar do aumento da Selic, seus impactos sobre o câmbio ainda são incertos, afinal de contas estamos no meio de uma corrida eleitoral, de uma pandemia e de uma ameaça nuclear.
O que muda no Brasil com os dados da reunião do Copom hoje
Os dados levantados hoje na reunião do Copom possuem enorme impacto na vida dos brasileiros. Como vimos antes, o crédito sofre influência direta e, consequentemente, a concessão de crédito ao consumir pode ficar mais ou menos facilitada.
No caso dos seguidos aumentos, como vem ocorrendo, isso torna a obtenção de crédito bem mais difícil de ser conseguida.
Hoje, durante a reunião do Copom, foi divulgado mais um aumento na taxa Selic, que é a taxa básica de juros. Com isso os empréstimos, financiamentos, cartão de crédito e até investimentos sofrem quando ocorre esse aumento na taxa, pois o custo de captação dos bancos sobe junto com ela.
O reflexo natural desse efeito é uma queda no consumo, afinal tudo fica mais caro. O contrário acontece quando a taxa Selic diminui.
Próxima reunião do Copom
No último anúncio de política monetária, feito no dia 16 de março, o Banco Central do Brasil aumentou a Selic em 1%, para 11,75% e anteviu um novo aumento, da mesma magnitude, 1%, na reunião de maio.
Além de anunciar que a taxa de juros chegaria a 12,75% em maio, o Bacen deixou subentendido que este seria o último dos 10 aumentos feitos desde o primeiro trimestre de 2021.
Ocorre que, de março pra cá, a inflação surpreendeu até o Campos Neto, presidente do banco central brasileiro, e alcançou o nível mais alto em 19 anos. Diante da força dos aumentos de preços e dos elementos que continuam exercendo pressão sobre estes indicadores é muito provável que a taxa de juros suba ao menos mais uma vez em 2022, no dia 15 de junho para ser mais exato.
De acordo com o anúncio do Banco Central, o ciclo de aperto monetário deve continuar avançando em território ainda mais contracionista. O Copom enfatizou que continuará firme em sua estratégia até que o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas ocorra.
Neste sentido, para a próxima reunião, o comunicado do Copom acredita que uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude é provável. Portanto, podemos esperar uma alta de até 0,75 p.p na próxima reunião.
Seguimos de olho!