O Comitê de política monetária decidiu, sem surpresa, na aguardada reunião do Copom, manter a taxa básica de juros da economia brasileira no patamar de 13,75%.
A decisão de não aumentar a taxa Selic indica o fim do maior ciclo de altas de juros da nossa história. Ao todo foram 12 elevações, que fizeram a taxa saltar de 2% em fevereiro de 2021 para o atual nível.
Apesar de não ter sido surpreendente, parte do mercado ainda esperava por um ajuste residual, de 0,25%. A propósito, dos 9 membros que integram o Copom, dois deles votaram pelo aumento de 0,25%. Essa foi a primeira vez que a decisão do Copom não foi unânime em cerca de 6 anos.
Reunião do Copom traz impacto na economia
Uma reunião do Copom, ainda que seja para informar sobre a manutenção de uma taxa, sempre traz impactos à economia. Apesar da manutenção da taxa de juros e da diferença menor entre os rendimentos dos títulos de renda fixa dos Estados Unidos e do Brasil, a nossa taxa Selic encontra-se em patamar suficientemente elevado para atuar contra a inflação.
Dito de outra forma, a Selic encontra-se em um nível alto o suficiente para provocar alguma desaceleração do nível de atividade econômica nos próximos meses.
A Selic em 13,75% fortalece os ganhos com renda fixa, especialmente com títulos públicos e, consequentemente, mantém, na teoria, a inflação sob controle. Ganhos maiores com títulos públicos fortalecem os investimentos no mercado financeiro em detrimento dos investimentos na economia real.
Desse modo, os empresários têm menores estímulos para investir na expansão da produção e passam a obter ganhos no mercado financeiro. De todo modo, para o investidor individual, os ganhos reais acima da inflação são positivos.
Qual o impacto no dólar depois da reunião do Copom
A primeira coisa que temos que levar em consideração agora, depois da reunião do Copom, é a decisão do Fed, também feita na chamada superquarta.
O FOMC, equivalente ao nosso Copom, decidiu aumentar a taxa básica de juros em 0,75%, o que levou os juros da economia norte-americana a 3,25% a.a.
Se o FOMC se movimentou e o Copom não, então a diferença entre os rendimentos dos títulos de renda fixa de lá e de cá ficou menor. Isso pode trazer volatilidade ao mercado de câmbio com alguma tendência de desvalorização da moeda brasileira.
Apesar da diminuição na diferença entre as taxas de juros, o Brasil ainda segue em vantagem.
Isso acontece por dois motivos muito simples: o primeiro está ligado à própria Selic, com a taxa em 13,75% fica realmente difícil competir com o Brasil. A nossa taxa real de juros ex post está próxima de 8% ao ano, é uma das mais altas no mundo inteiro.
O segundo, vem do comportamento da inflação. Apesar de entender que o movimento de queda nos preços do Brasil é transitório e provocado pelo governo, a nossa inflação tem diminuído enquanto nos Estados Unidos o quadro ainda é muito incerto.
Esses dois elementos impedem que um fluxo muito maior de dólares siga em direção aos Estados Unidos.
O que muda no Brasil com os dados da reunião do Copom
Apesar da manutenção da taxa de juros estabelecida nesta reunião do Copom, conforme antecipamos, é importante destacar que o custo com empréstimos e financiamentos deve continuar subindo.
Isso acontece porque existe uma espécie de efeito defasado entre o aumento da taxa Selic e o encarecimento do crédito. Dito de outra forma, o mercado ainda está ajustando os custos baseados nos outros aumentos feitos pelo Copom.
Além disso, com a taxa básica de juros lá em cima, o que se espera no médio e longo prazo é que a economia brasileira perca parte da dinâmica vista nos últimos meses, o que deverá contribuir para o aumento da inadimplência, mais um elemento que favorece o aumento nos custos de produtos financeiros.
Próxima reunião do Copom
A próxima reunião do Copom será nos dias 25 e 26 de outubro.
Apesar das deflações registradas em função da redução do ICMS sobre combustíveis e uma clara trajetória de diminuição no nível de preços no Brasil, o Copom deixou a porta aberta para eventuais aumentos nos juros caso as coisas “saiam de controle”.
Em comunicado emitido logo após a decisão do Copom, o banco central brasileiro disse que o ciclo de elevação de juros pode ser restabelecido caso o movimento de desinflação não se consolide como o esperado.
Ainda assim, essa parte do comunicado parece mais uma forma de o Banco Central do Brasil mostrar ao mercado que permanece vigilante em relação à inflação do que um alerta sobre eventuais aumentos nos juros ainda em 2022.
Seguimos de olho!