Semana de decisão da taxa básica de juros no Brasil

O Comitê de Política Monetária iniciou na última terça-feira (19), o primeiro dos dois dias de reunião para a decisão da política monetária a ser adotada no país.

O mercado aguarda ansiosamente o comunicado e a ata desta reunião porque nela pode conter elementos que apontem os possíveis próximos passos da autoridade monetária e os consequentes reflexos no câmbio, inflação, contas públicas etc.

A depender das últimas leituras dos índices de preços, o Banco Central deve indicar ações futuras que visem, ainda que de forma marginal, o controle da inflação.

Acompanhe nossa análise a seguir.

Os índices de preços

Segundo o IBGE, a inflação oficial do Brasil, o IPCA, fechou o ano passado com aumento de 4,52%. A variação mensal do mês de dezembro foi decisiva para colocar a inflação acima do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. No último mês do ano, a inflação foi de +1,35%, maior variação para dezembro desde 2002, evidenciando, para todos os fins que, a despeito da situação estar sob relativo controle, a inflação será motivo de preocupação das autoridades em 2021.

O principal contributo para o aumento desta inflação, sobretudo a partir do mês de junho do ano passado, é a cotação do dólar americano em reais. A moeda brasileira, que já vinha perdendo força frente ao dólar, ampliou as perdas a partir de março, quando a bolsa brasileira teve que acionar o circuit breaker em seis oportunidades, igualando o recorde de 2008.

Um indicador que mostra o poder do câmbio sobre os preços ao empresário e ao consumidor brasileiros é o IGP-M. O índice da FGV capta melhor os impactos do dólar sobre os preços domésticos em função do mesmo ser uma média ponderada dos preços ao atacado, ao consumidor e ao setor de construção. Os preços no atacado, os primeiros a sentir o aumento de custo decorrente de uma desvalorização cambial, representam 60% do índice.

Segundo dados da segunda prévia do IGP-M de janeiro, a inflação medida por este indicador aponta aumento de +24,2% nos últimos doze meses, enquanto a fração que mede a variação dos preços no atacado, o chamado IPA-M, variou +33,2%, no mesmo período. Há dois anos, tanto IGP-M quanto IPA-M apresentavam deflação.

Esse “súbito” aumento dos preços medidos pelo índice da FGV é parcialmente explicado pela forte desvalorização do real, conforme já foi dito acima.

A decisão do Copom

Antes de mais nada, quando digo que o quadro inflacionário não é preocupante, não quero dizer que a situação está ótima para pessoas e empresas.

  • Em primeiro lugar, é importante destacar que o resultado anual do IPCA em 2020, +4,52%, é muito menor que a inflação sentida pelas pessoas de mais baixa renda, que destinam a maior parte dos seus recursos para comprar alimentos e outros bens e serviços que foram fortemente influenciados pela subida do dólar.
  • Em segundo lugar, é importante que se destaque também que a inflação está elevada, mas as perspectivas em relação à demanda não são das melhores, o que nos  leva a acreditar que um controle cambial poderia reverter, ao  menos parcialmente, o quadro inflacionário em curso.

Na quarta-feira (20), espera-se que o Copom emita um sinal claro aos agentes econômicos: o de que uma possível subida da taxa de juros pode estar mais próxima do que se imagina. A taxa de juros deve permanecer inalterada, no atual patamar de 2% ao ano, mas o Banco Central deve reforçar a ideia de que se mantém vigilante em relação à inflação e que ao menor sinal de efetivo descontrole, agirá com uma política monetária mais restrtiva, ou seja, aumentará a Selic.

Tanto o recado, quanto a decisão de subir os juros mais adiante, servirá mais como um recado aos agentes que um instrumento efetivo de controle da inflação. Isso porque está cada vez mais claro que o aumento de preços visto nos últimos meses é decorrente de uma inflação de custo e, portanto, a tentativa de diminuir a demanda para controlar esse aumento de preços, seria um grande engano.

E o câmbio?

Se por um lado a decisão de aumentar a taxa básica de juros para controlar a inflação não passa de um placebo neste momento, por outro, esse primeiro movimento poderia desencadear o aumento da entrada de recursos estrangeiros no país, que por sua vez poderia suavizar a desvalorização do real ou até mesmo atuar de forma mais enérgica, a depender do grau desse aumento da Selic, sobre o câmbio, e promover algum processo de valorização do real.

O jogo está em aberto, a decisão de montar uma estratégia de controle da inflação via aumento de juros pode ser enganosa, mas também pode trazer algum alívio cambial. Para isso, a subida da taxa de juros teria que ser mais poderosa que o impacto que as questões fiscal e política terão sobre a moeda brasileira neste primeiro semestre.

Veremos.

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