Sérgio Vale é o economista-chefe da MB Associados, uma das assessorias de economia mais respeitadas do Brasil, e o convidado do episódio 20 do De Olho no Câmbio, para responder se o governo Lula vai conseguir fechar as contas.
Com ênfase em modelos econométricos e estatísticos, suas palestras são apreciadas pelas principais empresas no mercado. Atualmente, é membro do Comitê de Pesquisa em Economia Política Internacional da IPSA (International Political Science Association), professor do Insper e colunista da Exame.com.
Crítico aos primeiros meses de política fiscal no terceiro mandato de Lula, Sérgio avalia positivamente o desempenho de Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda, mas adverte: o Arcabouço Fiscal precisará ser revisto no próximo governo.
Confira o resumo da entrevista!
Onde conseguiremos chegar, faltando dois meses para o fim do ano?
Sérgio Vale responde que Arcabouço Fiscal negligência os gastos e toca apenas a arrecadação, que não será suficiente para cobri-los. O grande problema é que o Ministério da Fazenda está nas mãos do Congresso para atingir a arrecadação necessária ao resultado primário projetado para 2026. Entre outros riscos, há a vontade do presidente da Câmara de fazer uma Reforma Administrativa arriscada se mal coordenada com o Executivo.
Taxar apostas e fundos no exterior não será suficiente para cobrir o déficit esperado para 2024, mas deve ser feito, apesar da pressão contrária de Lira, porque a essência da Reforma Tributária é que o país deixe de funcionar como um paraíso fiscal para os mais ricos.
Vale é categórico ao afirmar que, se fosse para o Lira se opor ao aumento da carga tributária agora, não deveria ter aprovado a Reforma.
O que há de solução no horizonte é a Reforma do Imposto de Renda, que promete viabilizar um melhor ajuste fiscal a partir de 2025. O cenário é deficitário, mas o economista concorda com Campos Neto que os números não são tão importantes quanto o bom desempenho de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda, que trouxe da prefeitura de São Paulo uma abordagem fiscalista positiva.
É correto afirmar que o governo é gastador?
Para o economista, o gasto público é essencial e ninguém está falando em desmontar o estado, como em governos anteriores, ao alertar para o fato de que os gastos do Brasil são extremamente altos e inflexíveis. O remédio, portanto, deve ser estrutural, com uma regra fiscal que incorpore eficientemente os ciclos econômicos.
Resumidamente, o ideal seria gastar menos em cenário de crescimento, fazer poupança para momentos mais difíceis. Em recessão, então, poder gastar o necessário. Como o novo Arcabouço Fiscal não incorpora os ciclos econômicos e cria mais um dilema com a necessidade de aumento de arrecadação, será preciso revê-lo no próximo governo.
Podemos reviver uma sobrevalorização do Real em relação à Libra Esterlina em breve?
A esperança para o câmbio em relação ao dólar está aqui dentro, não lá fora. É garantir uma alíquota razoável e acabar com parte das exceções na Reforma Tributária. Avançar com a do Imposto de Renda. Entregar um resultado primário melhor do que o mercado espera. Contudo, a queda seria discreta. A disputa por poder com a China pode fazer com que a dívida pública americana supere o pico da Segunda Guerra Mundial ao final desta década, o que aumenta muito o risco fiscal e interfere na política de juros.
O Real pode ficar mais valorizado do que a Libra outra vez porque o cenário europeu é de nova recessão técnica em 2023. A inflação está subindo por pressões que tendem a permanecer, como a que Rússia e Arábia Saudita fazem sobre o mercado de petróleo em benefício próprio e a guerra. Esse cenário dos combustíveis afeta a percepção de riscos no Brasil, o que pressiona o câmbio para cima e traz o risco de inflação mais alta. O Pratz está em um dilema fundamental, porque precisa agradar o mercado, que pressiona pela paridade, mas também precisa atender ao governo e suas expectativas inflacionárias.
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O cenário é deficitário, mas o economista concorda com Campos Neto que os números não são tão importantes quanto o bom desempenho de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda.
Para o economista, o gasto público é essencial e ninguém está falando em desmontar o estado ao alertar para o fato de que os gastos do Brasil são extremamente altos e inflexíveis. O remédio deve ser estrutural, com uma regra fiscal que incorpore eficientemente os ciclos econômicos.
A esperança para o câmbio em relação ao dólar está aqui dentro, garantindo uma alíquota razoável e acabar com parte das exceções na Reforma Tributária, avançando com a do Imposto de Renda, e entregando um resultado primário melhor do que o mercado espera.
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