Visão Geral (c: 96 de 100)
Com a inflação dos Estados Unidos no maior nível em quase 40 anos e com a taxa de desemprego mais próxima do nível pré-pandemia, não há muito mais o que o FED possa esperar para mudar a sua postura em relação à política monetária.
Powell e os demais membros do FOMC devem abreviar a diminuição das injeções mensais de liquidez e dar pistas sobre quando a taxa de juros deve começar a subir.
A depender das respostas da autoridade monetária norte-americana, o Banco Central do Brasil terá bastante lição de casa.
Acompanhe nossa análise a seguir.
O estado da economia estadunidense
Depois de um duro golpe produzido pela pandemia, a economia norte-americana parece voltar aos poucos para o patamar pré-crise que, diga-se de passagem, era relativamente muito bom.
Apesar da enxurrada de subempregados e dos postos de trabalho que remuneram muito mal, a taxa de desemprego era a menor desde o final de 1969. E mesmo crescendo a um ritmo forte a inflação teimava em permanecer abaixo da meta do Federal Reserve.
Passados os efeitos mais agudos da pandemia sobre a economia, a taxa de desemprego que chegou a vigorosos 14,8% em abril do ano passado, já encontra-se em 4,2%. E a inflação, que há muitos anos estava abaixo dos planos do banco central, passou a subir com vigor.
Na verdade, a inflação já passou bastante do ponto e atingiu recentemente 6,8%, muito acima da meta de 2% e o maior nível em quase quarenta anos.
O Federal Reserve, que até pouco tempo mostrava pouca preocupação com a variação dos preços ao consumidor, agora parece um pouco aflito porque a inflação passageira permanece lá. Vivíssima.
A propósito, para que a economia não fosse ainda mais prejudicada pela pandemia, o governo dos Estados Unidos construiu os dois maiores rombos fiscais da sua história. Foram US$ 6,1 trilhões de dólares em déficit fiscal só em 2020 e 2021.
Agora que a economia passou a emitir sinais de “normalização” a grande questão é: quais serão os caminhos tomados pelos Estados Unidos diante de tanto déficit fiscal e inflação?
A avaliação do Federal Reserve
São grandes os desafios da autoridade monetária norte-americana.
No início da escalada dos preços a leitura foi a de que a inflação que estávamos vendo “nascer” era um evento meramente transitório.
Bem, esse diagnóstico não está totalmente incorreto e a prova disso é que a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, continua apostando nesta condição.
O problema nesta leitura é que a alta dos preços não só não foi embora rapidamente como ainda parece ter bastante fôlego pela frente.
A inflação ao produtor que, em tese, antecede o aumento de preços ao consumidor final, também está em nível recorde e atingiu o maior nível desde quando a série começou a ser divulgada, em 2010.
Com a inflação muito acima do esperado, Jerome Powell e sua equipe tinham apenas uma dúvida quanto ao melhor momento de iniciar o aumento da taxa básica de juros e essa dúvida vinha do mercado de trabalho.
Apesar da sensível diminuição da taxa de desemprego, muitas pessoas ainda encontram-se em situação de desemprego.
É importante ressaltar que o FED tem o que chamamos de mandato dual, ou seja, é obrigação do banco central americano zelar pelo valor da moeda doméstica e pelo nível de atividade econômica e emprego.
Powell não queria iniciar o processo de aumento de juros sem antes ter certeza de que o mercado de trabalho havia ganhado tração. Como a taxa agora se aproxima da casa dos 3%, parece ter chegado a hora da mudança.
Com este cenário, não resta outra alternativa ao FED senão a de mudar a sua postura em relação à política monetária.
Por que tapering?
O primeiro passo nesta direção é o que ficou conhecido como tapering, que na tradução para o português significa “afunilamento”.
Na política monetária o termo foi usado pela primeira vez em 2013 pelo ex-presidente do banco central americano. Na ocasião, Ben Bernanke disse que o FED começaria a diminuir os estímulos monetários presentes na economia desde o colapso econômico de 2008.
Atualmente o FED injeta cerca de US$ 120 bilhões todos os meses para garantir a liquidez necessária ao sistema.
Essa política, chamada também de quantitative easing, tem sido amplamente criticada nos últimos meses, sobretudo pelos seus impactos no mercado imobiliário. Alguns números mostram que os preços das casas já estão em níveis muito semelhantes aos que foram vistos pouco antes da crise do subprime, em 2008.
O que o mercado espera, portanto, é que Jerome Powell antecipe o fim da política de injeção de liquidez no mercado financeiro dos Estados Unidos.
E o que se espera como consequência direta desta diminuição de injeção de liquidez promovida pelo banco central americano é o aumento da taxa básica de juros no país.
As estimativas para 2022 é que a autoridade monetária coloque a taxa básica de juros na casa dos 3% ao ano. Se confirmado, essa será a maior taxa de juros desde o começo de 2008.
Perspectivas
Apesar de parecer pouco, a taxa de juros norte-americana em 3% ao ano é suficientemente elevada para promover um grande fluxo de recursos financeiros para o país.
Dito de outra forma, o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos deve pressionar ainda mais o banco central dos países em desenvolvimento, que terão que promover ajustes nas suas taxas de juros para evitar problemas com as contas externas.
Por enquanto o banco central brasileiro tem aumentado a taxa básica a fim de debelar componentes de inércia inflacionária, ou seja, componentes que aumentam a inflação mesmo quando os custos aos empresários deixam de subir.
A próxima etapa do Bacen será conduzir uma política monetária que seja capaz de impedir que tenhamos problemas nas nossas contas externas.
Em resumo, se o comportamento do FED for o esperado neste final de ano, a tendência é de desvalorização da moeda brasileira.
Seguimos de olho.