As grandes empresas brasileiras estão aproveitando o juro baixo no Brasil para troca de dívida em dólar por real. As multinacionais também estão em época de envio de lucros para as matrizes. Com isso, há saída de dólares e alta do câmbio.
Os últimos dias não têm sido tranquilos para o dólar, a volatilidade tem assustado até aqueles que se dizem não se preocupar com o sobe e desce. A contaminação do receio político e econômico da América Latina após tantos focos de atenção, fez com que o dólar disparasse na região, e nós não passamos ilesos durante o período.
Contudo, apesar de acharmos que agora deverá ser um momento de calmaria, nós ainda temos alguns pontos para prestar atenção.
Para começo de conversa, esta época, como você bem sabe, é de distribuição de bônus e lucros por parte das empresas. Isso não é diferente ao redor do mundo, então as empresas optam por retirar seus recursos para remeter lucros e dividendos para as suas sedes.
Quando olhamos para os dados dos últimos anos, a média é de envio de cerca de R$ 15 bilhões de dólares. Em 2011 foi o período que vimos o último recorde de remessas internacionais, quando o número chegou a R$ 25,1 bilhões, de acordo com a Economatica.
Além disso, as exportadoras também estão optando por manter os recursos lá fora para realizar o pagamento de suas operações e amortizações. Ou seja, menos dólares ficam por aqui. E se temos uma quantidade menor da moeda forte por aqui, a cotação do dólar tende a ficar mais alta.
Com isso, vemos especialmente nessa época do ano de fechamento de balanços, um movimento de aumento das remessas de lucros e dividendos para as sedes das empresas. O que pode acentuar o movimento é o aumento da percepção de risco do país.
Porém, como temos visto justamente o movimento inverso, de que o investidor internacional está só esperando o momento ideal para dar uma chance ao Brasil, a situação de 2019 não deverá ser agravada, nem ter algum ponto fora da curva e com isso, deveremos ter o mesmo patamar dos últimos anos (mas que ainda assim, não passa despercebido).
Trocando as dívidas
O que nós temos de diferente hoje em dia é o movimento de conversão das dívidas em dólares por dívidas locais (e, portanto, em Reais), principalmente, devido ao movimento de queda dos juros, mesmo porque a taxa Selic está em suas mínimas históricas e ainda deve cair mais um pouco. Atualmente, as empresas estão passando por um momento de substituição de financiamentos corporativos externos pela emissão de dívida no mercado local.
Como o Brasil perdeu, há alguns anos, nota de investimento (investiment grade), o custo para pegar dívidas no exterior ficou mais alto – devido ao alto risco que o mercado encontra no Brasil. Porém, agora as empresas têm a oportunidade de captar em reais e com uma taxa melhor. Dessa forma, as companhias não precisam sofrer os reveses da cotação da moeda e já tem uma taxa com um valor mais justo do que anteriormente.
O movimento tem sido tão forte que o próprio Banco Central emitiu um comunicado com esta avaliação como uma explicação para a alta do dólar desde agosto e que só deve continuar da mesma forma daqui em diante.
Portanto, aliando os fatores de remessas de lucros e dividendos para as suas matrizes somado ao movimento de troca de dívida em moeda estrangeira por local, o que temos, via de regra, é que o dólar continuará saindo daqui e não entrando como seria o ideal para vermos a sua cotação caindo de forma mais vertiginosa. Esses não os únicos pontos de atenção para a movimentação da moeda, mas com certeza são importantes neste fim de ano.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira